A Web Summit está cada vez melhor e maior! Uma desvantagem deste crescimento é o turbilhão de informação que os participantes têm que gerir ao longo dos quatro dias do evento. Na World Shopper Trends queremos tornar mais fácil essa gestão e, por isso, criámos este resumo baseado nas notas que tirámos durante o evento e no estudo 2025 Automotive 360º Vision. Como sempre, informação transmitida quase em direto! Web Summit Dia #1, AutoTech Muitos profissionais da indústria automóvel ainda têm que compatibilizar a paixão pelo motor a combustão com um futuro cada vez mais elétrico. Isto ficou bem patente na apresentação de Marek Reichman (Chief Creative Officer & Executive Vice President, Aston Martin Lagonda): "metade de mim é petrolhead, a outra metade sabe que o futuro será elétrico." A Aston Martin afirma-se como uma das marcas mais sustentáveis do planeta, porque não se "deita fora um Aston". Restaura-se e estima-se. O Rapid EV será lançado em 2020. A tendência de evolução da mobilidade é para uma solução "multi-modal". As barreiras que existem hoje à transferência entre diferentes opções de mobilidade, tenderão a desaparecer. No futuro será muito mais fácil e conveniente fazer um trajeto em diversos meios de transporte, fazendo coincidir horários e implementando sistemas de pagamento único. Na mobilidade de carácter utilitário as soluções de partilha tenderão a substituir as soluções de propriedade, especialmente nos espaços urbanos. A mobilidade em propriedade sobreviverá porque representa paixão, viagens e memórias. É por causa desta coexistência de diferentes modos de mobilidade que os operadores públicos e privados, construtores de automóveis e novos operadores terão que trabalhar cada vez mais em conjunto. Esta é uma visão que temos associado ao conceito da World Shopper Conference onde queremos juntar todos estes profissionais "debaixo do mesmo teto". Os computadores quânticos conseguem resolver algoritmos muito mais rapidamente do que os computadores tradicionais. No ano passado, aqui na Web Summit, o Grupo Volkswagen apresentou uma aplicação dos computadores quânticos para prever engarrafamentos e para tomar medidas preventivas para melhorar a fluidez do trânsito. Este ano, Martin Hofmann, CIO do Grupo Volkswagen, voltou ao palco da Auto Tech para mostrar outras aplicações deste tipo de computação: concepção de novos materiais para baterias de EVs e de blocos otimizados de motores a combustão. Ainda no âmbito da gestão do trânsito, Martin apresentou uma solução para determinar a necessidade do número exato de táxis numa dada localização, num determinado momento. Para 2019 disse que ia propor à Web Summit a criação de uma aplicação para melhorar a fluidez do trânsito em Lisboa, durante o período do evento. Em maio deste ano, a NAVYA fez, pela primeira vez em Portugal, uma demonstração do seu Shuttle autónomo, na World Shopper Conference. Hoje, Jérôme Rigaud (Deputy CEO) veio à Auto Tech apresentar mais em detalhe esta empresa, que é um dos maiores especialistas do mundo na conceção e produção de veículos autónomos. As soluções de mobilidade autónoma de "última milha" não estão a ser exploradas pela indústria automóvel tradicional e constituem, já hoje, verdadeiras oportunidades de negócio, ao nível das grandes instalações industriais, aeroportos, portos e autarquias, entre outros. A Realidade Aumentada é hoje utilizada para ajudar os condutores a guiarem melhor. No futuro, com o advento dos veículos autónomos poderá ser utilizada para explicar aos passageiros aquilo que o veículo está a fazer em cada momento. Esta informação poderá ser crucial para uma aceitação abrangente da condução autónoma. Atualmente a utilização típica de um automóvel acaba por ser muito reduzida. Ainda existe uma elevada taxa de sub-ocupação dos veículos e, na maior parte do tempo, a grande maioria dos veículos está estacionada, ocupando espaço na via pública. No entanto, ainda há muitas pessoas que não se sentem confortáveis a partilhar um veículo. Há empresas como a "ustwo" que estudam a atitude social associada a este fenómeno. Os construtores de automóveis enfrentam sérios desafios quando entram no domínio da mobilidade partilhada. O primeiro deles é atribuir à experiência Cliente a importância que este fator realmente tem. É preciso não esquecer que, ao longo de 100 anos, os construtores delegaram a relação com o Cliente final na sua rede de Concessionários e concentraram-se no desenvolvimento e na produção dos veículos. Construtores como a Tesla têm um "mindset" diferente, para o bem e para o mal. Se esta marca é referência na criação de fãs, também enfrenta problemas enormes sempre que pretende escalar os seus volumes de produção. No âmbito de uma mobilidade mais partilhada terá que existir uma maior colaboração entre todos atores deste ecossistema. Teoricamente, o transporte público seria a solução mais eficiente de mobilidade partilhada. No entanto e sem o apoio de novos recursos tecnológicos, a solução do transporte público continuará a ser a menos conveniente de utilizar e, sobretudo, a mais cara de desenvolver. Considere-se por exemplo os investimentos ligados à expansão de uma rede de metropolitano. É por esta razão que cada vez mais empresas apostam na opção de serviços de transporte em furgões de passageiros, num modelo de ride-sharing ou de rota fixa ou ainda semi-fixa mas sempre apoiado em novas soluções de comunicação e de tratamento de dados. A VIA é uma dessas empresas e colabora com a Mercedes-Benz mas também existe a Chariot da Ford e a Moia do Grupo Volkswagen. Depois de ocupar vários cargos na BMW, Carsten Breitfeld fundou a Byton que produz um veículo elétrico dotado de novos patamares de condução autónoma (L3 para já, L4 em 2020/1). Por um lado este construtor quer se posicionar com uma atitude diferente da indústria tradicional, na relação com o Cliente final. Mas por outro quer garantir máxima sustentabilidade financeira, pelo que vai seguir as melhores estratégias dos construtores tradicionais, como é o caso da partilha de plataformas entre diferentes modelos. Carsten sublinhou que um dos problemas da Tesla foi o de não ter desenvolvido uma plataforma comum para os modelos S e 3. Samer Al Moubayed, CEO da Furhat Robotics, fez uma demonstração incrível de um "robot-social" no palco da Auto Tech. A máquina é um busto que, para o efeito, se encontrava colocada no topo de um suporte cilíndrico. O robot da Furhat mudou de face, de voz (feminina ou masculina, conforme a face) e de idioma. Demonstrou que pode dar formação a humanos, ensinar um novo idioma ou ser concierge num aeroporto. Não faltará muito para que este tipo de "robots-sociais" venham a ser utilizados na indústria automóvel, especialmente em serviços de apoio ao Cliente. Depois desta demonstração seguiram-se várias intervenções acerca dos novos domínios de aplicação da robótica, de temas éticos e do risco da eliminação de postos de trabalho. Em relação a esta última questão continuam-se a invocar as novas oportunidades de emprego que decorrerão do surgimento de novas profissões. No caso da robótica e mesmo no domínio mais alargado da inteligência artificial, novas oportunidades surgirão, por exemplo, no "treino" inicial das máquinas por parte dos humanos. Seja como for, estas novas oportunidades para serem aproveitadas necessitarão de uma "reciclagem" de competências e da disponibilidade das pessoas para a mudança. Web Summit Dia #2, AutoTech (atualizado em 07/11/2018) Hoje começámos o dia com a descoberta de uma scooter elétrica, dobrável, desmontável e transportável. A scooter da Ujet torna o processo de carregamento mais conveniente, permitindo o acesso da bateria a pontos de difícil acesso, por exemplo no interior dos edifícios. A possiblidade de dobrar e transportar à mão uma "moto" permite novos patamares de facilidade de utilização, nomeadamente em termos de estacionamento. Tal como para outras empresas, para a Bosch é fundamental garantir que novas tecnologias como a Inteligência Artificial ou a Internet of Things ofereçam máxima segurança e estejam suficientemente fiabilizadas. Esta situação é particularmente crítica no setor automóvel devido a razões óbvias. Isto não representa um travão para a inovação no setor automóvel, mas pode tornar um pouco mais demorada a implementação de soluções disruptivas. Hoje foi apresentado mais um robot na Auto Tech, o Misty 1, que tem a particularidade de já estar à venda por $2,399. Estes "dispositivos" estão cada vez mais próximos de entrarem no nosso quotidiano, desempenhando as tarefas que os humanos não querem ou não podem fazer. A indústria automóvel conhece bem esta realidade porque desde 1961 adota soluções robotizadas nas tarefas mais exigentes das linhas de montagem. Henrik Henriksson, CEO da Scania, diz que daqui a 20 anos poderá vir a ter duas conversas com as suas filhas: ou estas lhe dizem que ele fez parte do problema da poluição do planeta ou reconhecem que ele pertenceu ao grupo dos que trabalharam sempre para um futuro melhor. É por ele preferir a segunda opção que a Scania quer ser líder no transporte sustentável. De momento a marca está a explorar a via dos bio-combustíveis mas Henrik não tem dúvidas que a eletrificação também chegará a este setor. Em 2011, a Scania decidiu passar a conectar todos os camiões que produzia e a autonomia de condução também será uma via incontornável. No setor do transporte por estrada, o motorista representa 50% dos custos operacionais e por isso, hoje, o sistema é desenhado em torno dele. O advento de camiões autónomos poderá contribuir para um melhor aproveitamento da capacidade de carga dos veículos pesados que, atualmente, ronda os 60%. Já o temos dito várias vezes, a mobilidade aérea urbana em aeronaves elétricas de descolagem e aterragem vertical, não é ficção científica. A Volocopter e a Lillium Aviation estiveram na Auto Tech a mostrar o estado de evolução das suas propostas. No caso da Volocopter foi particularmente impactante a exibição de um vídeo de um voo de uma aeronave autónoma elétrica, realizado dentro de um enorme espaço fechado devido à inexistência de regulamentação que o permita fazer ao ar livre. Este tipo de mobilidade vai ser uma alternativa em zonas urbanas, a partir de 2025. Quando a Uber foi fundada, em 2009, a estratégia foi de conquistar Motoristas e Clientes, implementar o serviço de Ride-Sharing e, só depois, começar a lidar com os problemas regulatórios. Esta estratégia conduziu a bons resultados no curto prazo mas trouxe problemas difíceis a longo termo. Caen Contee da Lime e Miguel Gaspar da Câmara Municipal de Lisboa conversaram sobre a implementação de conceitos disruptivos de mobilidade urbana, como é o caso das scooters elétricas. O tom foi sempre muito consensual, mostrando ambas as partes uma grande vontade de colaboração. Só desta forma será possível implementar estas soluções com total segurança e integração com o ecossistema de mobilidade urbana. No mesmo painel, Minal Asan da K2 Global classificou o modelo de negócio da Lime como sendo "muito mais rentável do que o Ride-Sharing de automóveis". Sabendo-se que o Ride-Sharing é, por sua vez, mais lucrativo do que o Car-Sharing foi com alguma surpresa que ficámos a saber do interesse da Lime vir a lançar, já em 2019, um serviço de Car-Sharing dotado de uma frota 100% elétrica. Mate Rimac contou uma história que prova que é possível conjugar eletrificação com paixão pelo automóvel. Com 18 anos, Mate, amante incondicional de automóveis, comprou um velho BMW E30. Durante algum tempo dedicou-se a aproveitar as delícias da tração traseira, até que partiu o motor. Nesse momento resolveu converter o BMW num veículo elétrico, na sua garagem. Oito anos depois a Rimac Automobili produz um super-desportivo elétrico que convenceu Jeremy Clarkson, é fornecedor de tecnologia de propulsão elétrica a vários OEM e emprega mais de 500 pessoas. Mate continua a ser um amante de automóveis mas não se importa que estes sejam silenciosos. Por fim também justificou a autonomização de condução por razões de segurança, representando o número anual de acidentes fatais de trânsito de uma forma bem impressionante: igual à queda de um Boeing 737 por hora, todos os dias do ano! Concordamos muito com Pasquale Romano da ChargePoint, quando afirma que o driver da adoção em massa do veículo elétrico será a existência de uma oferta muito mais abrangente do que aquilo que hoje existe. Apesar do segmento SUV ser aquele que apresenta crescimentos de volume mais acentuados, só agora começam a chegar ao mercado as primeiras propostas BEV neste segmento. Este fator conjugado com um prémio de preço que ainda subsiste face aos modelos a combustão e com a dificuldade de entrega por parte da maioria dos OEM, tem limitado fortemente a difusão dos BEV. Atif Rariq da Volvo Cars veio à Auto Tech falar do modelo de Subscrição e da forma como o mesmo se adapta às necessidades atuais e futuras dos Cliente e à evolução tecnológica dos veículos. Este conceito que agiliza todo o processo de "aquisição", utilização e troca de veículos tem sido amplamente explicado nas apresentações World Shopper, baseadas no estudo 2025 Automotive 360º Vision. Uma das vertentes abordadas por Atif foi a da relação direta do OEM com o Cliente final, por via da Subscrição. Se esta relação não põe em causa a existência dos concessionários, pelo menos implicará alterações no papel exercido pelos retalhistas e novos desafios para os OEM habituados, desde sempre, a delegar este relacionamento. Web Summit Dia #3, AutoTech (atualizado em 08/11/2018)
Se substituir um cantor humano por um robot desvirtua a essência da música, substituir um piloto de um veículo de competição por uma máquina contraria o espírito deste desporto. Mas se analisarmos este tema com maior profundidade poderá haver outra forma de encarar a autonomia da condução na competição automóvel. Lucas di Grassi, campeão de Fórmula E em 2016/17, esteve na Auto Tech a apresentar a Roborace. Este projeto visa utilizar o laboratório da competição automóvel para acelerar o desenvolvimento dos sistemas de condução autónoma. A ideia passa por criar uma competição onde as equipas se foquem na evolução dos respetivos sistemas de condução autónoma, utilizando veículos idênticos mas com diferentes soluções de ADAS. Na primeira parte da corrida, os veículos serão conduzidos por pilotos humanos, enquanto o sistema aprende as melhores técnicas de condução para cada pista. Depois, o veículo entra na box, o piloto sai e a competição continua com os carros em modo de condução autónoma. Lucas é o primeiro a dizer que não sabe qual irá ser a adesão do público mas, na nossa opinião, há possibilidades de estarmos perante um sucesso semelhante ao de uma Fórmula E. Neste último dia de Auto Tech e no domínio do setor automóvel e de mobilidade as novidades foram os sistemas digitais de informação do condutor que utilizam dados típicos dos veículos de condução autónoma, elevadores verticais e horizontais, a nova abordagem às cidades por parte das start-ups de Ride-Sharing e Scooter-Sharing e, finalmente, o truck-platooning. Este artigo, apesar da sua extensão, é um resumo muito sintetizado das notas que tomámos ao longo dos três dias de Auto Tech. O próximo passo será integrar toda a informação recolhida no estudo 2025 Automotive 360º Vision. Até à próxima! Ricardo Oliveira
0 Comments
Leave a Reply. |
WS Trends Portugal/Brasil
Em parceria com: Temas
All
ServiçosArquivo
March 2022
|