Menos automóveis na 4ª edição da Web Summit significou que o setor está a passar ao lado da maior Conferência do mundo de tecnologia? Nada disso! O futuro veio para ficar e avança à velocidade da luz! Se o setor automóvel está progressivamente a abandonar os seus eventos tradicionais, como se viu na última edição do Salão de Frankfurt com a ausência de 26 marcas, esta indústria ainda não está totalmente rendida aos eventos tecnológicos. De facto, à partida, havia menos “Automotive” na Web Summit 2019 com a ausência dos grandes espaços da BMW Group e da Daimler. Por outro lado, a Porsche estreou-se com um espaço para eventos na área de exposição e com a exposião de um Taycan Turbo S no palco da Auto Tech, a conferência de Automotive e Róbotica na Web Summit. As "divisões digitais” do Grupo Volkswagen e da Daimler (Mercedes-Benz.io, tb.lx) estavam presentes no Pavilhão 4 e apelavam ao recrutamento. Mais nenhum OEM dispunha de uma presença visível na 4ª edição em Portugal da maior conferencia de tecnologia do mundo. Orçamentos dos OEM condicionados pela própria disrupção do setor ? Mas independentemente da maior ou menor visibilidade das marcas, o setor automóvel está sempre presente neste tipo de eventos. Para o bem e para o mal… Espaço Porsche na área de exposição. Já praticamente ninguém fala de eletrificação Os eventos de tecnologia tendem a falar de tendências futuristas, passando por cima daquelas que ainda não estão definitivamente implementadas, mas que já são assumidas como certas. A eletrificação do automóvel já não é tema na Web Summit, tendo passado para a esfera da atividade normal do setor automóvel. Isto não quer dizer que a eletrificação tenha deixado de ser um tremendo desafio para esta indústria, significa apenas que, no meio “tecnológico”, deixou de ser uma tendência que suscita dúvidas ou curiosidade sobre o seu futuro. O Porsche Taycan Turbo S, o primeiro veículo elétrico da era moderna da marca exposto no palco, suscitou a curiosidade de alguns fotógrafos, mas ninguém destacou o seu modo de propulsão. Numa indústria em disrupção existem dois futuros. Aquele de mais longo prazo que atrai o público mais vanguardista, mas que não conquista os seus próprios profissionais. E o futuro que se mede pelo impacto a curto e médio prazo nos negócio, mas que não tem o “hype” das tendências mais disruptivas. "Isto não quer dizer que a eletrificação tenha deixado de ser um tremendo desafio para esta indústria, significa apenas que, no meio 'tecnológico', deixou de ser uma tendência que suscita dúvidas ou curiosidade sobre o seu futuro." Um problema de espaço nas cidades As cidades estão a crescer e temos que garantir a mobilidade de quem lá vive e passa. Se o problema da poluição local está em curso de resolução com a progressiva eletrificação do parque circulante, o problema do espaço subsiste. É razoavelmente consensual que há que reduzir o número de automóveis a circular e a estacionar no espaço urbano, fomentando soluções de transporte partilhado e de micro-mobilidade. À luz desta lógica compreende-se que Laurens Laudowicz da Okai (scooters) tenha dito que é egoísta utilizar um veículo de uma tonelada para mover uma pessoa em meio urbano, de A para B. De acordo com Brad Bao da Lime, a energia para mover uma pessoa numa scooter, durante 1 km, é 1% da energia necessária para transportar essa pessoa num automóvel. Se as pessoas estivessem disponíveis, hoje, para resolver este problema haveria mais gente a deslocar-se para o Parque das Nações em moto elétrica. Como eu fiz hoje, na BMW C Evolution. Mas ainda há pouca gente disponível para o fazer, mesmo demorando metade do tempo que demorariam se fossem de automóvel. Percorrer a 2ª Circular à chuva entre os carros e camiões não contribui para incentivar os mais céticos… Nos meios urbanos, a indústria automóvel ainda vive desta indisponibilidade das pessoas para optarem por aquilo que seria estritamente racional, por contrapartida daquilo que é mais seguro, confortável e mais socialmente aceite. É claro que esta indisponibilidade varia nas diferentes partes do globo. Mesmo aqui na Europa, os nórdicos estão muito mais disponíveis para optar pelo racional, como constatámos na primeira edição da Electric Mission, em fevereiro de 2019. A indústria ainda poderá viver algum tempo desta resistência à mudança e da inadaptação das infraestruturas para esta mesma mudança. No entanto tem, cada vez mais, que se interessar seriamente por conceber, produzir, comercializar e assistir em larga escala veículos mais adaptados aos desafios da mobilidade urbana. Bio-Hybrid by Schaeffler (CES 2019) Propriedade do veículo versus partilha O negócio de distribuição automóvel nasceu com base no princípio de vender automóveis e os Clientes têm estado disponíveis para “investir” num bem que se desvaloriza. Durante anos e na falta de alternativas, a compra em propriedade foi uma das poucas soluções para os Clientes beneficiarem dos serviços de um automóvel. Sempre existiram soluções de mobilidade partilhada, conhecidas pelo nome pouco “fashion” de transporte público. A primeira solução de aluguer de automóveis ao dia (Rent-a-Car) surgiu em 1906 naquilo que foi, provavelmente, a primeira forma de Car-as-a-Service (CaaS). Fast-forward para 2019: a tecnologia permitiu o advento de modalidades de aluguer “self-service” ao minuto, como é o caso do Car-Sharing. Conjuntamente com o Car-Pooling e o Ride-Sharing, estas talvez constituam as formas mais racionais de utilizar um automóvel em meio urbano. Mas as pessoas querem continuar a “comprar” veículos por mais tempo, do que por minutos ou por dias. O que não faz sentido é contraírem empréstimos para comprarem definitivamente bens que se depreciam, disse Scott Painter, da Fair, uma empresa norte-americana de subscrição de veículos usados com cerca de 49.000 Clientes. Claro que o “não faz sentido” depende sempre dos preços e dos níveis de utilização dos veículos… Scott Painter (Fair). Se a compra do automóvel em meios urbanos faz cada vez menos sentido do ponto de vista financeiro e dos novos hábitos de consumo, o desenho original do negócio de distribuição automóvel deve ser adaptado a esta realidade. De acordo com Alain Visser da Lynk&Co, existe uma desconexão massiva entre a indústria e os hábitos de consumo das novas gerações. A subscrição de automóveis surgiu em 2016 como resposta a esta necessidade mas, de acordo com Alain, a designação tem sido subvertida e adotada por produtos que, na realidade, são mais diferentes formatos de “lease” do que “pura” subscrição. Alain Visser (Lynk&Co). Da condução autónoma ao Flash Gordon O ser humano conduz tendencialmente pior do que uma máquina, nas condições específicas de circulação que existem hoje em dia. As máquinas não têm sono, não tomam bebidas alcoólicas nem se deixam distrair por telemóveis. E aqui voltamos a ter dois futuros. Um mais longínquo onde veículos de condução autónoma de nível 5 (L5, sem volante nem pedais) circulam harmoniosamente e sem intervenção humana, em cidades com vastas áreas dedicadas aos peões e à micro-mobilidade. E outro mais próximo, onde sistemas de apoio à condução reduzem o risco de falhas dos humanos na condução. Do L1 ao L3, a evolução é incremental e o condutor mantém-se sempre como responsável máximo da condução do veículo. Do L3 para o L4 passa-se para a definição oficial de veículo autónomo, onde o condutor, pode delegar totalmente a condução do veículo em zonas e condições pré-definidas. "Talvez venha a passar-se com os automóveis L5 aquilo que se passou com os “carros voadores” de Flash Gordon: imaginados, previstos, mas longe de terem sido concretizados no formato inicialmente idealizado." A pergunta de quando é que chegará em massa o L5 é recorrente na Web Summit, desde a sua primeira edição em Portugal. É natural, é o mundo ideal onde se irão poupar anualmente 1,3 milhões de mortes em acidentes de viação, provocados por causas humanas. Mas da evolução incremental do L1 ao L3 e depois do grande salto para o L4, vem o passo de gigante que será a passagem para o L5. Para além do eterno dilema do Trolley e do tempo que irá demorar a erradicar todos os automóveis que não sejam L5 (para que o risco de acidente seja mesmo zero), não é claro que os Consumidores queiram prescindir, em todas as circunstâncias, de veículos suscetíveis de serem conduzidos. Talvez venha a passar-se com os automóveis L5 aquilo que se passou com os “carros voadores” de Flash Gordon: imaginados, previstos, mas longe de terem sido concretizados no formato inicialmente idealizado. Por outro lado, a ideia de um transporte urbano em aeronaves elétricas de descolagem vertical continua a sua evolução. O espaço aéreo é infinito por comparação com a superfície terrestre. No céu podem-se criar “auto-estradas” com 100 faixas lado-a-lado e, quando isso não for suficiente, pode passar-se para o seguinte nível de altitude e voltar a criar outra “auto-estrada”. A mobilidade nestas aeronaves, apoiada por potentes plataformas digitais, não só é cada vez mais provável de se concretizar como também começam a surgir modelos de negócio cada vez mais competitivos. Viagens partilhadas tipo “shuttle”, por oposição ao conceito porta-a-porta, permitirão preços que serão apenas 20% mais caros do que o mesmo trajeto efetuado num táxi, segundo declarações de Daniel Wiegand da Lilium Aviation. Lilium Jet Conclusão
Este ano a Web Summit pareceu ser, mais do que nunca, um evento para startups. As marcas de automóveis adaptaram a sua participação a um evento com estas caraterísticas, apostando menos na exposição e demonstração de produto e mais na presença digital. Para além das grandes temáticas transversais do interesse de todas as indústrias, a mobilidade nas cidades e a autonomia da condução são os temas da Web Summit que mais diretamente se relacionam com o setor automóvel. Ambos são temas abrangentes que envolvem mais stakeholders, para além deste setor. As grandes tendências de evolução nestas áreas parecem estar definidas e há cada vez maior consenso em torno do caminho a seguir. Por outro lado, também há cada vez mais eventos de mobilidade, o que gera uma enorme oportunidade para a World Shopper Conference se diferenciar! Em 2020 a World Shopper Conference irá focalizar a sua atenção no futuro do setor automóvel. A próxima edição será a maior de sempre, irá celebrar 10 anos de World Shopper Conference e tratará temas mais práticos. Sempre com o objetivo de entregar a Profissionais e Fans desta indústria as melhores ferramentas para enfrentar o futuro que veio para ficar! Ricardo Oliveira World Shopper founder Head of 2025 Automotive 360º Vision
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