Quisemos ir de Lisboa a Frankfurt em menos de 36 horas, num Audi e-tron! Fizemos este percurso contra-relógio, numa única etapa, parando apenas para carregar o veículo e cumprindo sempre as velocidades legais. Cada pequeno atraso nos carregamentos representou o risco de não atingirmos o objetivo! Descubra o resultado final, saiba como está a progredir a infra-estrutura de carregamento, conheça os reveses que enfrentámos e porque é que "embarcámos nesta loucura"... No passado dia 8 de setembro, às 06:40, uma equipa da consultora World Shopper arrancou de Cascais em direção a Frankfurt, ao volante de um Audi e-tron, o primeiro veículo 100% élétrico da marca. O objetivo era fazer os 2.425 km no mínimo tempo possível, incluindo os períodos de carregamento. Para referência, esta mesma equipa realizou este percurso em setembro de 2017, ao volante de um Volkswagen e-Golf, e demorou três dias e meio. Desta vez apostou-se na autonomia de mais de 400 km (WLTP) do Audi e-tron, na sua capacidade em receber potências de carregamento de até 150 kW e num plano de viagens que não incluía paragens para dormir, nem para refeições. Os dois condutores revezaram-se ao volante do Audi para evitar riscos de segurança, provocados por excesso de cansaço. Durante a "Non Stop Electric RoadTrip" os ocupantes nunca abandonaram o Audi e-tron, a ignição nunca foi desligada e, à chegada a Frankfurt, o computador de bordo indicava 35 horas e 11 minutos! Porquê? Atualmente praticamente ninguém faz trajetos regulares de mais de 500 km, em automóvel. Muito menos utilizando um veículo elétrico. O objetivo das "RoadTrips Elétricas" da World Shopper não é replicar as condições de utilização dos veículos elétricos (BEVs) mas sim de os colocar em situações extremas. Só por si, uma viagem longa em autoestrada já é um exercício difícil para um BEV, devido às velocidades médias elevadas e à ausência de oportunidades de regeneração de energia. No caso da "Non Stop Electric RoadTrip" introduzimos um ambicioso objetivo de tempo para colocar ainda mais pressão sobre o veículo e, sobretudo, sobre a operacionalidade da infraestrutura de carregamento. Estes cenários exigentes amplificam os problemas que ainda subsistem e facilitam a sua identificação e análise. Com estas ações a World Shopper recolhe informações críticas para o seu estudo sobre o futuro do setor automóvel e da mobilidade (2025 Automotive 360º Vision), para além de as utilizar no desenvolvimento dos serviços que presta aos seus Clientes. Carregamentos táticos Nesta viagem utilizámos aquela que é, provavelmente, a melhor app da atualidade para definição de rotas, para viagens em veículos elétricos: "A Better Route Planner" ( https://abetterrouteplanner.com/). Este software permite definir os trajetos mais rápidos, em função do veículo, sugerindo uma sequência de carregamentos que tira máximo partido da potência de cada carregador. No nosso caso foram propostas cargas de, por exemplo, 46% num carregador de 50 kW para que o Audi e-tron pudesse apenas alcançar o próximo carregador de 350 kW, onde poderia tirar pleno partido da sua potência de carregamento (150 kW). O objetivo era sempre o de reduzir o tempo total do trajeto, mesmo que isso implicasse mais paragens. Estes "carregamentos táticos" também permitiram que quase todo a viagem tenha sido efetuada às velocidades máximas legais em cada local, sem preocupações de autonomia. Quando fizemos este percurso no Volkswagen e-Golf em setembro de 2017, raramente ultrapassámos a velocidade máxima de 90 km/h o que nos obrigou a circular nas autoestradas sempre com os sinais de perigo ativados. Maior capilaridade O número de Postos de Carregamento Rápidos (PCR) está claramente a aumentar. Em Portugal, a entrada em funcionamento do PCR do Fundão na A23 veio facilitar muito as viagens para Espanha, via Salamanca. No centro e norte de Espanha, a conjugação das redes EasyCharger com a Ibil (participada pela Repsol) e, futuramente, com a Ionity, multiplicou as opções de carregamento. Além disso, graças a um desenvolvimento mais recente da infraestrutura de carregamento no país vizinho, os PCR têm, geralmente, potências mais elevadas e são dispositivos mais modernos. Em França e na Alemanha já é possível combinar redes nacionais de carregamento com redes regionais e, desta forma, viajar de elétrico, pelos principais eixos viários, sem grandes preocupações de autonomia. Mais PCRs em cada estação Um dos problemas de viajar em "contra-relógio" num BEV é chegar a um PCR no limite da carga da bateria (SoC) e encontrar outro veículo a carregar na única tomada disponível. O tempo de imobilização sofre um aumento exponencial. Na ação #NonStopAudi nunca enfrentámos este inconveniente. Por um lado porque ainda existem poucos BEV a viajar, gerando uma sub-utilização dos PCR situados em áreas de serviço de autoestradas que não se encontrem nas proximidades de zonas urbanas. Por outro lado, porque cada vez mais estações de carregamento dispõem de vários PCRs antecipando e bem, um aumento do parque circulante de veículos elétricos. Das várias redes que utilizámos nesta ação, as estações da Ionity foram aquelas que mais se destacaram em termos estruturais: 6 a 7 PCR disponíveis, espaço para circulação dos peões e localização visível. Por outro lado, as mangueiras revelaram-se demasiado curtas para o Audi e-tron (obrigando, em certos casos, a ocupar dois lugares de estacionamento) e nota-se a falta de uma cobertura que proteja os utilizadores durante as paragens, como é o caso daquilo que existe nas estações da rede Fastned, no norte da Europa. Carregamentos mais rápidos O aumento de PCRs de 150 kW, 175 kW e 350 kW significa uma redução dos tempos de carregamentos para os veículos que aceitam estas potências. O Audi e-tron carrega a 150 kW, razão pela qual tivemos tempos de carregamento de 30 minutos para carregar 80% da bateria de 95 kWh. O abastecimento de um depósito de combustível ainda é muito mais rápido mas estima-se que os automobilistas passem uma média de 15 minutos nas áreas de serviço de autoestrada, pelo que os períodos de imobilização começam a aproximar-se, ainda que as paragens num elétrico sejam mais frequentes. Não esquecer que os especialistas em segurança rodoviária recomendam paragens de 2 em 2 horas para os condutores de qualquer veículo, o que corresponde a cerca de 200 km, o que é, por sua vez, a autonomia tipicamente utilizável em autoestrada, para BEVs que anunciam autonomias máximas (WLTP) de 350 km. De qualquer forma, a conjugação de velocidades médias mais elevadas com períodos de imobilização inferiores estão a tornar cada vez mais praticável a utilização de veículos elétricos em viagens longas. Pagamentos mais fáceis Em 2017 para atravessarmos Espanha, França e Alemanha com um BEV precisávamos de 5 cartões de pagamento que tinham que ser solicitados antes da viagem e enviados para uma morada física. Em Portugal o acesso aos PCR da Mobi.e ainda se faz desta forma, o que representa uma inconveniência para os turistas que nos visitem ao volante de um elétrico. Na #NonStopAudi fizemos um total de 26 carregamentos, 22 dos quais no estrangeiro. Destes apenas um não dispunha da modalidade de pagamento à distância via smartphone, o que melhorou de forma significativa a conveniência. Ainda assim subsiste o problema de cada aplicação ter um "layout" e um procedimento de pagamento diferente, o que obriga sempre a um algum período de habituação com a consequente perda de tempo. Desta vez não encontrámos nenhum PCR com possibilidade de pagamento direto no próprio carregador, como já vimos noutras ações realizadas noutros países. O mais fácil está por resolver
Embora seja o "mais fácil" ainda pode causar grandes inconvenientes a quem viaja de BEV. Referimo-nos a problemas técnicos antes e durante os carregamentos, que podem inviabilizar a continuação de viagens. Ao longo desta ação tivemos dois casos de "Falha de alimentação da rede" que bloqueram o cabo no veículo, quatro situações em que se registaram problemas para iniciar o carregamento e um caso de um carregador desligado. Os serviços de apoio ao Cliente das empresas proprietárias dos PCR funcionaram melhor do que em 2017, com horários mais alargados de funcionamento e atitude mais proativa. Apenas seria desejável que os operadores franceses e alemães falassem mais fluentemente em inglês. É claro que o recurso aos serviços de apoio ao Cliente, numa ação que está associada ao cumprimento de um objetivo de tempo, acaba sempre por ser um grande inconveniente mas, são este tipo de situações que são mais evidenciadas neste formato contra-relógio que escolhemos. Viajar em longa distância num veículo elétrico é hoje muito mais fácil do que em 2017. A autonomia e a potência de carregamento do Audi e-tron revelaram-se trunfos decisivos, assim como uma infraestrutura dotada de maior capilaridade e com capacidade para disponibilizar maiores velocidades de carregamento. Hoje, um automóvel com 400 km de autonomia WLTP, a carregar até 150 kW pode fazer tiradas de 250 km em auto-estrada, nos limites da velocidade legal, sem "range-anxiety" e chegando aos PCR com uma SoC de mais de 20%, o que permitirá encontrar alternativas de carregamento, em caso de necessidade. Os percursos longos em auto-estrada continuam a ser os mais desfavoráveis para os veículos elétricos: tanto pelo já mencionado aumento dos consumos, como pelo custo elevado da energia nos PCR, sobretudo nos de potências mais elevadas. Por exemplo, no caso dos PCR da Ionity (350 kW) é cobrada uma tarifa única de 8 euros, independentemente da energia carregada. É preciso considerar que estes PCR foram concebidos para um uso pontual dos veículos 100% elétricos e não como forma de assegurar o seu carregamento no dia-a-dia. Nas viagens longas em auto-estrada, a vantagem financeira dos veículos elétricos ainda é residual: na ação #NonStopAudi, a economia do elétrico foi de apenas 24,04 euros face ao que um moderno veículo similar a diesel, teria gasto no mesmo percurso de 4.760 km. Ninguém utiliza um veículo elétrico nas condições em que o fizemos, mas este tipo de experiência radical ajuda-nos a compreender melhor os problemas que ainda subsistem e a aconselhar pistas de solução. Acrescentar um ambicioso objetivo de tempo a uma viagem de quase 5.000 quilómetros com 26 paragens para carregamentos, significou aumentar exponencialmente a importância de cada imponderável. Foi um desafio difícil mas muito instrutivo para os estudos que realizamos sobre o futuro do setor automóvel e para a nossa gama de serviços. Veja todos os vídeos desta ação aqui. Tempo total de viagem entre Cascais e Frankfurt: 35:11 em 2.425 km Distância total percorrida: 4.760 km Média total de consumo: 25,3 kWh/100 km Consumo total: 1.234 kWh Número total de carregamentos: 26 Custo total: 447,20 €* Custo total comparativo (diesel): 471,24 euros** *Para simular um custo de utilização em Portugal foi considerado que os 26 carregamentos (1.234 kWh) foram todos efetuados no PCR situado na área de serviço de Santarém (A1), no terminal CCS (50 kW), utilizando um cartão "EDP Comercial", com 20% de desconto. Os cálculos foram efetuados através da aplicação MiiO (link) **Considerando um consumo médio de 7,5 litros aos 100 km e um preço médio de 1,32 euros por litro de gasóleo. Ricardo Oliveira World Shopper founder 2025 Automotive 360º Vision
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