Entrar em negação é próprio das indústrias em disrupção

 Volkswagen I.D. Buzz: um exemplo de aposta na eletrificação. Foto: World Shopper

É claro que hoje ainda existem entraves à adoção em massa dos veículos 100% elétricos: competitividade dos preços condicionada pelos incentivos, autonomia inferior, tempo de carregamento, capilaridade insuficiente da rede de carregamento e reduzida diversidade de oferta nos vários segmentos do mercado.

Mas quer os "petrolheads" gostem ou não, o futuro será elétrico e o caminho até lá será eletrificado (Mild, Full e Plug-in Hybrid). A população das  cidades continua a aumentar e a concentração massiva de veículos de combustão interna prejudica gravemente a saúde e a qualidade de vida das pessoas. Além disso, o VE é aquele que oferece melhor experiência de condução no trânsito urbano. 

É evidente que a eletrificação não irá acontecer de repente, ao mesmo tempo, em todas as partes do mundo. Os potenciais inconvenientes associados à utilização de um VE nos dias de hoje, assumem importâncias diferentes em diversas partes do globo, em função do perfil de utilização dos veículos, da qualidade da infraestrutura de carregamento e de outros fatores.

O futuro será elétrico e o impacto desse futuro no modelo de negócio do setor automóvel será fortíssimo. Desde os OEM que irão perder o fator diferenciador dos "Powertrain" (muito similar entre os diferentes VE), até aos Concessionários que terão reinventar o modelo de negócio do após venda (os VE têm uma manutenção reduzidíssima e são muito mais fiáveis).

Questionar o futuro elétrico, lamentando os potenciais inconvenientes que hoje existem, enfatizando a sua importância nas condições mais desfavoráveis e ignorando o ritmo atual da evolução tecnológica, é simplesmente entrar em negação. Um comportamento recorrente em indústrias que passam por processos de disrupção. 

O que pode chocar quem vê de fora mas que a mim não me surpreende, é o posicionamento de algumas consultoras prestigiadas do setor automóvel. Em vez de investirem os seus recursos na preparação do setor para o impacto da eletrificação, insistem em alimentar a negação da evidência. De uma forma geral esta indústria é muito conservadora, é pouco recetiva à mudança e estas consultoras são um produto da própria indústria.

Ricardo Oliveira 

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