E o futuro dos veículos usados?

As tendências de evolução do setor automóvel apontam para menos "compra em propriedade" e mais partilha da mobilidade. No entanto estamos longe de decretar a "morte" da venda de automóveis, especialmente dos usados... Descubra aqui o que aí vem!

A maior parte das previsões sobre o futuro da mobilidade baseia-se num perfil de utilização estritamente urbano dos veículos. É natural que o foco incida nas cidades, porque é aqui que os problemas de gestão de trânsito e de emissões poluentes mais se fazem sentir. Será nestas zonas que as transformações de mobilidade serão mais disruptivas e, por isso mesmo, mais impactantes para o "status-quo".

Mas mesmo que os seres humanos se continuem a concentrar em mega-cidades, em 2050 ainda haverá 40% da população mundial que viverá fora das grandes urbes. Entre aqueles citadinos que não vão prescindir da propriedade do automóvel e os residentes em zonas sub-urbanas e rurais, o mercado da compra e venda de veículos ainda terá um longo futuro pela frente.

​O que não implica que não se venham a dar grandes transformações no modelo deste negócio!

Os agentes da disrupção neste setor apostam, naturalmente, em oferecer soluções aos Clientes que contrariem os defeitos do modelo tradicional.

Comprar um veículo hoje, é ainda um processo complexo, consumidor de tempo e pouco conveniente. Além disso, o setor não se consegue libertar de uma imagem menos transparente, apesar dos esforços dos melhores profissionais.

A Shift é uma start-up sediada em São Francisco que está a reinventar a experiência de compra e venda de Veículos Usados (VUs) entre particulares. Presta um serviço de avaliação dos veículos baseado numa inspeção técnica de 200 pontos e na consideração de métricas objetivas e transparentes. A Shift lava e prepara os automóveis para venda e coloca potenciais Vendedores em contacto com potenciais Compradores. Ambos são assistidos ao domicílio através de "Car Ethousiasts" que adotam uma atitude isenta e de aconselhamento. 

A Shift também coloca financeiras e seguradoras em contacto com os compradores dos seus veículos mas o fator essencial de diferenciação é o serviço ao domícilio.

Os Vendedores podem marcar uma avaliação gratuita dos seus veículos ao domicílio e os Compradores podem agendar um test-drive gratuito à porta da sua casa ou no local de trabalho.

George Arison, fundador e CEO da Shift, diz que um processo de compra de um VU no modelo tradicional demora, tipicamente, 4 horas, enquanto que através da sua empresa demora apenas 45 minutos.

A simplificação de procedimentos para Vendedores e Compradores, a conveniência de utilização, a rapidez de execução e a transparência dos processos são os "drivers" do conceito Shift.

É claro que estes fatores não são condição suficiente para o sucesso dos novos operadores do setor automóvel, como ficou provado com o encerramento da "Beepi" em Fevereiro de 2017. Esta start-up recorria a um modelo similar ao da Shift mas falhou na avaliação correta dos veículos e tornou-se um negócio de capital demasiadamente intensivo.

Hoje a Shift lidera as vendas de veículos semi-novos na área da Baía de São Francisco e em Los Angeles. Mais de 50% dos seus Clientes e 70% dos seus Compradores têm idades entre os 18 e os 35 anos. O Grupo BMW compreendeu a importância de estar mais próximo destes novos atores do negócio automóvel e, através da sua divisão de capital de risco, a BMW i Ventures, liderou a última ronda de financiamento da Shift que atingiu um valor de 38 milhões de dolares. 

Os atributos da Shift não são condição suficiente, mas podem muito bem ser condição indispensável para o futuro de todos operadores de retalho automóvel. ​

Ricardo Oliveira
2025 Automotive 360º Vision

Shift
Foto: averie woodard on Unsplash.